No nosso terreiro em Bertioga, há uma entidade que se destaca não só pela elegância de seu traje branco e vermelho, mas pela firmeza da palavra, pela risada que ecoa entre os atabaques e, principalmente, pela forma como acolhe, aconselha e protege cada filho de fé que cruza o portão. Estamos falando de Zé Pilintra, o padrinho espiritual da nossa casa, um guia que se tornou símbolo de sabedoria, respeito, humildade e amor ao próximo. Quem vê sua figura vestida com terno branco impecável, gravata vermelha e chapéu de feltro, pode até confundir com um malandro qualquer. Mas basta se aproximar para sentir a energia poderosa que o envolve. Zé Pilintra é mais do que uma entidade, é um mestre da espiritualidade popular, um defensor da justiça e um espelho para aqueles que desejam trilhar um caminho de luz mesmo vivendo no mundo das sombras.
Zé Pilintra não nasceu na Umbanda, mas se manifestou com tanta força nos terreiros que se tornou uma das entidades mais queridas e cultuadas dentro da religião. Sua origem é cercada de mistérios e versões. Alguns dizem que foi um homem nordestino, que viveu entre o sertão e os morros do Rio de Janeiro. Outros afirmam que ele representa a alma coletiva dos malandros de bem, dos que viveram com honra e ajudaram o povo mesmo quando a vida lhes foi injusta. O que importa de verdade, no entanto, é o que ele representa hoje: a sabedoria de quem viveu na pele as dores do povo e decidiu continuar trabalhando no plano espiritual para aliviar o sofrimento alheio.
No nosso terreiro, Zé Pilintra se manifesta com um sorriso largo, uma gargalhada que quebra o peso do ambiente, e uma presença firme que impõe respeito mesmo antes da primeira palavra. Ele não precisa gritar, porque sua autoridade está no olhar. Não precisa provar nada, porque sua luz fala por si. Zé Pilintra é aquele que acolhe os caídos, que orienta os perdidos, que anima os desanimados e que abre caminhos para quem quer crescer com honestidade e fé. Ele é malandro sim, mas no sentido mais nobre da palavra: aquele que conhece a vida, que entende os jogos do mundo, que sabe quando calar e quando falar. Ele é esperto, mas nunca maldoso. É firme, mas nunca cruel. É justo, e é exatamente por isso que tantos o procuram.
Zé Pilintra é o padrinho espiritual do nosso terreiro porque foi ele quem, nas primeiras giras, firmou as primeiras proteções, orientou os primeiros trabalhos e deu o tom de como a casa se posicionaria: com respeito à tradição, com o coração aberto para todos, e com a seriedade que a espiritualidade exige. Não há filho de fé da nossa casa que não tenha sentido, ao menos uma vez, a mão de Zé Pilintra segurando a sua, mesmo que em silêncio. Ele está presente nas aberturas de trabalho, nos momentos de firmeza, nas decisões difíceis. Ele é guia e é guardião, mas também é amigo. Daqueles que falam verdades que doem, mas que libertam. Que te fazem rir enquanto te dão um puxão de orelha. Que te tratam como adulto, mas enxergam o menino ou a menina ferida dentro de você.
A atuação de Zé Pilintra não se limita à Umbanda. Ele também é reverenciado na Jurema Sagrada e por alguns cultos afro-brasileiros de tradição popular, sempre com uma aura de respeito e reverência. É uma entidade que transita entre mundos, entre o sagrado e o profano, e por isso mesmo é tão poderosa. Ele caminha com um pé no chão e outro no espiritual, ajudando quem está no meio do caminho entre o desespero e a fé. E isso faz com que sua atuação seja tão próxima, tão humana e ao mesmo tempo tão mágica.
As pessoas procuram Zé Pilintra por diversos motivos. Alguns vêm pedir ajuda em casos de justiça. Outros precisam abrir caminhos no trabalho, superar vícios, lidar com traições, angústias, decisões difíceis. E ele ouve todos com paciência, sem julgamento. Ele entende os dilemas humanos como poucos, porque já viveu as ruas, já sentiu a dor do preconceito, já foi vítima da maldade, mas nunca perdeu a fé. E é essa fé que ele nos transmite. Ele ensina que mesmo na pior encruzilhada, sempre há uma saída. Que mesmo com os bolsos vazios, é possível ter dignidade. Que mesmo sendo mal compreendido, é possível manter a retidão.
Zé Pilintra gosta de suas oferendas simples: uma boa bebida, uma vela vermelha e branca, um cigarro bem aceso, uma rosa, um chapéu, um copo de café. Mas o que ele mais aprecia é a verdade. Ele não se impressiona com ouro ou com promessas. Ele quer o coração limpo, a intenção sincera e o compromisso com a mudança. Ele é padrinho daqueles que querem crescer na vida sem passar por cima de ninguém. Que erram, mas aprendem. Que caem, mas se levantam. E é por isso que ele é tão importante para a nossa casa. Ele nos ensina o valor da humildade, da gratidão e da coragem.
Em Bertioga, onde a natureza é abundante e o mar carrega tanta força quanto os ventos das matas, a energia de Zé Pilintra encontra solo fértil para se manifestar com intensidade. Ele se faz presente nas águas, nas praças, nas esquinas, nas casas simples, onde há fé e necessidade. É comum ouvirmos histórias de pessoas que nunca pisaram em um terreiro, mas que sentem sua presença, seu cuidado, seu aviso em sonhos ou intuições. Porque Zé Pilintra não se limita a um altar. Ele caminha com o povo, vive entre as pessoas, atua onde for chamado com respeito.
Conhecer Zé Pilintra é abrir a alma para uma força que mistura leveza e intensidade. É permitir que a espiritualidade entre na vida de forma prática, cotidiana, real. É entender que ser espiritualizado não é viver nas nuvens, mas saber lidar com as encruzilhadas da vida com dignidade e fé. É aceitar que não estamos sozinhos, que há seres de luz trabalhando por nós, mesmo nos momentos em que tudo parece perdido.
Por tudo isso, e muito mais que não se pode colocar em palavras, Zé Pilintra é o padrinho do nosso terreiro. É ele quem nos mostra o caminho quando a estrada some. É ele quem ri quando precisamos lembrar que a vida também é festa. É ele quem firma o ponto e sustenta a energia quando o peso é grande. E é a ele que agradecemos, com o coração cheio, por fazer parte da nossa história espiritual.